O Nosso Futuro

 

Artur Soares Alves

5-Set-2013

 

 

Foi há dois anos que Portugal tomou consciência do pântano financeiro em que se encontra e foi por força das imposições dos nossos credores. A simples tendência da classe política seria continuar a contrair dívidas até  vir a mulher da fava-rica. Foi assim que durante anos o País se hipotecou com empréstimos cujo único objetivo real era manter uma  aparência de bem-estar e riqueza. As virtudes que tornam os cidadãos e os países dignos desse bem-estar — a virtude da poupança para começo — essas virtudes foram postas de lado e consumiu-se para além do admissível, e até do necessário. Pior do que isso, os espíritos lúcidos que iam alertando (e mostrando as contas) foram tratados oficialmente com desprezo, quando não soezmente vilipendiados.

 

A falsa riqueza do país tinha que terminar. Ficou acordado no memorando de entendimento que o Estado iria gastar menos e os cidadãos pagariam mais impostos, isto é, teriam menos dinheiro para consumo. Assim o País demonstraria a sua solvabilidade aos credores que, em contrapartida, estariam dispostos a emprestar mais. Isto é, no fim do processo já se poderia “voltar aos mercados” e daí, certamente, regressar à situação anterior a 2011; talvez repetindo o ciclo  austeridade > falsa riqueza > austeridade.

 

Não parece que esta ideia seja muito coerente nem dê grande resultado embora se compreenda que a classe política, vivendo em ciclos eleitorais de quatro anos, o anuncie como esperança. Também não parece que os credores e as agências de  rating[1] se equivoquem numa questão desta natureza.

 

Produzir e pagar

 

A alternativa é pagar as dívidas e evitar dívidas futuras que não sejam para investimento reprodutivo. A alternativa é libertar as capacidades produtivas do Portugueses que são oprimidos pela burocracia e pela fiscalidade. Que não haja ilusões. Só a liberdade económica permite trilhar o caminho da prosperidade, porque deixa os mais capazes espaço para darem asas às suas capacidades.

 

Em todos os países e em todas as gerações nascem empreendedores, pessoas com visão, ambição e espírito aventureiro que criam negócios, dão emprego e aumentam a riqueza coletiva. Também é certo que ambições há muitas mas serão os consumidores — votando com o seu dinheiro— quem vai separar os que têm sucesso dos que não têm.

 

É certo que esta ideia é simples demais para agradar à classe política, sobretudo quando esta se afasta cada vez mais da sensibilidade dos cidadãos. E não agrada porque o Estado gosta de escolher os vencedores e nas circunstâncias atuais pode fazê-lo[2]. Mas fará mal porque o vencedor não será aquele que o público escolheria mas sim aquele com melhores contatos, aquele que tem a conversa mais simpática aos ouvidos dos agentes do Estado. O resultado costuma ser invariavelmente o mesmo: gastam-se milhões em projetos com nomes sonantes e no fim chega a falência para ser paga pelos mesmos. Primeiro o  Zé Pagantibus não teve acesso ao produto que queria e depois ainda tem que pagar os prejuízos de um projeto que ele nunca quis.

 

Austeridade

 

Quanto à austeridade nunca pode ser um fim em si-mesma, assim como viver de dinheiro emprestado não é um objetivo sustentável. A princípio, em nome de uma esperança, a austeridade sustenta-se mas depois vê-se que significa a perda de bens que a civilização do século XXI toma por adquiridos, nomeadamente, a saúde. Uma sociedade que toma este caminho torna-se conflituosa por ser um combate por bens cada vez mais escassos.

 

Somente o crescimento económico permite uma vida social em harmonia. Por modesto que seja, ele alimenta uma esperança fundamentada por dias melhores e mantém as pessoas ocupadas em coisas úteis, em vez de irem atirar pedras a montras.

 

As recessões geram conflito. Reforçam infinitamente esse sentimento poderoso na sua negatividade que é a inveja. Nunca o invejoso medrou nem quem ao pé dele morou… Em todas as circunstâncias, seja em crescimento, seja em recessão, é impossível dividir equitativamente os sacrifícios e as benesses. Porém, alguém progredir mais devagar do que outrem é muito diferente de alguém fazer maior sacrifício do que o vizinho.

 

É por aqui que a austeridade como princípio político promete falhar não se vendo que alternativa vai florescer quando esse fracasso for inapelável.

 

FIM

 

 

 

 



[1] Houve tempo em que se iam criar agências europeias para dar boas notas aos países gastadores; um projeto que se perdeu. Até se enviou lixo para a Moody’s. Os tempos estão muito mudados…

[2] Não faz mal lembrá-lo mais uma vez. O Estado tomou o partido pela aquisição de habitação própria e respetivos agentes imobiliários contra o arrendamento e os proprietários. Como se vê foi uma opção que até  manda ventarola.

 

 

  
 
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